Continuam matando nossos meninos! Violência policial e privação de democracia no Brasil

, par  Autres Brésils, Debora Maria da Silva

Esse ano de 2020 completou 14 anos dos crimes de maio. Os crimes de maio foram um dos maiores massacres da história contemporânea na democracia do nosso país, que vitimou mais de 600 meninos no Estado de São Paulo. A maioria, negros, moradores de favelas e de periferias. Esse massacre foi crucial... os crimes não foram investigados, não tiveram um resultado positivo para as famílias que ficaram devastadas, com sequelas desencadeadas pelo luto e sofrimento, tendo em vista várias perdas de mães com câncer no útero, nas trompas, nas mamas... perdemos também com depressão, com AVC. Tem também pais que sofreram AVC. Vimos famílias inteiras devastadas com os crimes de maio, para além de perder os filhos, foi uma impunidade velada. Não houve o grito que deveria acontecer numa democracia, não houve o luto, não houve um minuto de silêncio por parte dos órgãos competentes, principalmente na gestão de um presidente de esquerda que se calou perante esses crimes. As instituições de direitos humanos não bateram na tecla para investigar, se debruçar, cobrar... muito menos a mídia. Então, esses crimes de maio foram acobertados por uma copa do mundo e a dor ficou com essas mulheres, e muitas delas perderam a vida abandonadas pelo Estado, sem um tratamento psicológico. Enfim, nada veio de devolutiva e de amparo perante o Estado.

Saímos batendo em várias portas pra poder entrar, muitas vezes sendo criticadas pelos intelectuais que acham que os crimes de maio já são passado, mas os crimes de maio não ficaram no passado. Está muito presente quando vemos um menino ser assassinado dentro da sua casa como o João Pedro. A atrocidade dos crimes de maio foi importada para outros Estados, tendo em vista que o João Pedro, o Guilherme e tantos outros meninos estão morrendo porque existe um projeto de extermínio da população pobre, negra, moradora de favela e da periferia. É um projeto de matar o pobre no Brasil e não há um grito. Geralmente o grito só fica com as mães e com os familiares. Geralmente o grito é um grito meio midiático, a luta do povo brasileiro é um pouco midiática, no calor da situação há um empenho rápido, depois passa, porque o brasileiro tem amnésia.

Não podemos achar normal que o brasileiro tenha memória curta, sabendo que morreram mais de 600 meninos pelo braço armado do Estado, onde os assassinos não foram punidos. A luta vem por intermédio das próprias mães. Há cobrança, alguns avanços, mas quando vemos que as instituições e a população esquecem, tem memória fraca, a gente lembra que quem não se lembra dos crimes do passado, permite que aconteça no presente e muito mais no futuro. Temos que olhar os crimes do passado pontuando os crimes do presente. Se os crimes da ditadura tivessem tido uma punição, não tinha os crimes de maio, estaríamos de fato vivendo em um Estado democrático de direito. Mas também, como podemos dizer que vivemos em um estado democrático de direito onde temos uma polícia militarizada? Quem tanto fala em democracia ficou no comodismo de ver a polícia militarizada atacando os mais pobres e na maioria negro. Há um projeto de dizimar a raça negra e embranquecer o Brasil. Esses crimes são devastadores, veja que 77% das mortes ocorridas no Brasil, um país que se diz democrático mata mais de sessenta mil jovens por ano, a maioria negros, pobres, moradores de favelas e periferias, uma ditadura continuada, perversa, que nunca acabou e tem que acabar. Exigimos um empenho dos intelectuais de bater nessa tecla sobre a desmilitarização das nossas vidas. A morte do João Pedro é uma morte tida como só mais uma nas estatísticas. A população pobre e negra morre invisível, não há um clamor, como quando é um intelectual que morre e imediatamente o crime é descoberto, investigado e os assassinos são punidos. É preciso fazer uma reflexão muito grande em cima dessas mortes num Estado democrático de direito. Não se pode aceitar que tiveram valas clandestinas só no tempo da ditadura, pois existem valas continuadas na democracia com os mesmos modus operandi. Um exemplo são os desaparecimentos forçados que são muito maiores do que mostram as estatísticas dos homicídios. As pessoas não voltam pra casa! O Estado nega o direito desse cidadão brasileiro de existir. Então há uma ditadura camuflada em uma democracia, ela nunca acabou e tem que acabar.

Tendo em vista que estamos vivendo também uma ditadura na saúde. Temos um presidente que não se comove com as perdas dos brasileiros que estão sendo dizimados e que tem rosto. Uma doença, uma pandemia que deveria estar comovendo todo esse país. As cúpulas da presidência e das próprias instituições do judiciário não fazem um levante de solidariedade a essas mortes acontecendo, devido à pandemia. Tiveram mães que contraíram a doença. Em 24 horas estamos vendo mais de mil pessoas sendo mortas pela omissão. Estamos tendo uma ditadura contra a saúde pública. A maioria sobre cai sobre a população pobre, negra, tendo em vista que se está encobrindo qual é a cor e quem são essas pessoas que estão morrendo. É um projeto. A pandemia é um projeto de um novo Brasil, um novo mundo da tecnologia. A morte dessa população é a morte da massa trabalhadora que pra eles não servem mais. Então, tem que acabar um pouco com a população porque a tecnologia está aí. Corpos físicos sendo substituídos por máquinas. Faz parte do capital essas mortes recorrentes dessa pandemia. O capital produz tudo que é tipo de faceta, com a colaboração dos governantes quando é omisso, principalmente no nosso país. Um país que sabia, podia ter prevenido essas mortes, mas não fizeram a prevenção e continuam não fazendo.

Já são mais de cinquenta mil mortes com a pandemia e ainda estão construindo hospitais de campanha com falta de insumos para os trabalhadores. Muitos trabalhadores da saúde estão trabalhando doentes, com medo de perder os seus benefícios. Os trabalhadores que morrem não estão sendo amparados pelo Estado e nem pelo país. O Brasil tem que ser punido pela ausência de compromisso com a saúde pública por parte do governo federal!

No meio de uma pandemia dessa o que se mais vê é uma guerra por siglas partidárias para garantir o poder, garantir os privilégios o privilégio dos amigos, das famílias de quem está no poder, mas não da população brasileira. A população está jogada, tendo em vista que o SUS está aí segurando esse abacaxi. Um SUS sucateado, falta tudo e mesmo assim essa pandemia no meio de um ano eleitoral... a politicagem do nosso país só pensa na garantia do seu poder e não da população. Eu acho que o nosso país está mergulhando no fundo do poço quando vemos que a saúde pública também faz parte de uma ditadura continuada.

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