Os economistas de todo o mundo têm lutado para entender algo que julgam difícil de explicar. Por que os preços do mercado de ações continuam subindo apesar do fato de que algo chamado crescimento parece estar estagnado? Na teoria econômica convencional, não deveria acontecer desta forma. Se não há crescimento, preços de mercado devem cair e como resultado estimular o crescimento. Assim que, quando o crescimento for retomado, os preços de mercado voltam a subir.
Aqueles que são fiéis à esta teorização afirmam que a anomalia é uma aberração momentânea. Alguns até negam que seja verdade. Mas, há alguns que consideram a anomalia um desafio importante à teorização convencional. Eles procuram revisar a teorização e levar em consideração o que muitos chamam "estagnação secular." Os críticos incluem vários notáveis, como ganhadores do Prêmio Nobel. Eles incluem alguns pensadores diferentes como Amartya Sen, Joseph Stiglitz, Paul Krugman e Stephen Roach.
Enquanto algumas dessas pessoas têm diferentes linhas de argumentação, eles ainda assim compartilham as mesmas crenças. Eles todos acreditam que tudo que o Estado faz tem um grande impacto no que acontece. Eles todos acreditam que a presente situação não é saudável para a economia como um todo e que contribuiu para um aumento significativo da polarização da renda real. Eles todos acreditam que deveriam mobilizar a opinião pública para colocar pressão nas autoridades governamentais para atuar de algumas formas mais específicas. E também acreditam que mesmo que a presente situação não saudável e anômala perdure por algum tempo mais, há ainda assim políticas de Estado apropriadas que possibilitem uma economia menos polarizada e mais saudável.
Em suma, e esse é o meu ponto principal, nenhum desses críticos estão prontos para ir adiante e aceitar o argumento de que o sistema capitalista como tal entrou em fase de declínio inevitável. Isso significa que não existe nenhuma política governamental que vá restaurar o funcionamento do capitalismo como um sistema viável.
Não muito tempo atrás, estagnação secular era um termo usado por muitos analistas principalmente para descrever o estado da economia japonesa no início da década de 90. Mas, desde 2008 o uso desse conceito tem sido aplicado em diversas áreas – Membros da Zona do Euro tais como Grécia, Itália e Irlanda; países ricos em petróleo tais como a Rússia, Venezuela e Brasil; recentemente também os Estados Unidos da América e potencialmente algumas prévias potências econômicas como China e Alemanha.
Um dos problemas para aqueles que procuram entender o que tem acontecido é que diferentes analistas usam geografias e calendários distintos. Alguns falam em situações de país por país e alguns outros tentam avaliar a situação da economia mundial como um todo. Alguns olham a estagnação secular tendo começado em 2008, enquanto outros nos anos 90 e há ainda outros que consideram que tenha se iniciado no final da década de 60. Poucos, no entanto, ainda apostam no início tendo sido ainda anterior aos anos 60.
Gostaria de propor mais uma vez, uma outra forma de olhar a estagnação secular. O mundo capitalista existe em partes do globo desde o século XVI. Eu chamo isso de sistema mundial moderno. Expandiu-se geograficamente e finalmente tomou conta do globo inteiro desde a metade do século XIX. O sistema tem sido muito bem-sucedido em termos de princípio básico, o acúmulo sem fim do capital. Ou seja, a busca de acúmulo de capital a fim de acumular ainda mais capital.
O sistema mundial moderno, como qualquer outro sistema, tem flutuações. Há também mecanismos que limitam as flutuações e trazem o sistema de volta para o equilíbrio. Isso se mostra como um ciclo de altos e baixos. O único problema com isso é que quando o ciclo está em baixa ele nunca retorna para o ponto mais baixo anterior e sim para um outro ponto mais alto. E isso é porque, no complexo padrão institucional há uma resistência contra chegar ao ponto mais baixo. A forma real do ritmo cíclico é dois passos para cima e um passo para baixo. O ponto de equilíbrio assim está em constante movimento. Acrescenta-se ao ritmo cíclico as tendências seculares.
Se alguém mede a abscissa das tendências, move-se para uma assíntota de 100% que claramente não se pode cruzar. De alguma forma, antes desse ponto, algo como em 80%, as curvas começam a flutuar descontroladamente. E isso é um sinal de que nos movemos para dentro de uma crise estrutural do sistema. Ele se bifurca, o que significa que há dois caminhos diferentes, quase opostos, a serem escolhidos para o(s) sistema(s) que sucedem. A única coisa que não é possível de se fazer é ter o sistema presente operando no seu modo prévio.
Considerando que antes desse ponto, grandes esforços para transformar o sistema resultaram em uma mudança muito pequena; agora o contrário é verdadeiro. Qualquer pequeno esforço para mudar o sistema tem grande impacto. Meu argumento é que o sistema mundial moderno entrou nessa crise estrutural por volta de 1970 e vai permanecer nela por mais alguns 20 - 40 anos. Se quisermos analisar uma ação útil temos que ter em mente duas temporalidades diferentes, o curto prazo (no máximo 3 anos) e o prazo médio.
No curto prazo o que podemos fazer é minimizar a dor daqueles que foram afetados mais negativamente pela crescente polarização da renda que está acontecendo. Pessoas na vida real vivem no curto prazo e precisam de um alívio imediato. Entretanto, esse alívio não irá mudar o sistema. As mudanças podem vir no médio prazo quando, aqueles a favor de um sistema sucessor ou outro ganham mais força para alterar a bifurcação à sua frente.
Aqui mora o perigo quando não se vai o longe suficiente nas análises críticas do sistema. É apenas quando alguém vê claramente, que não há saída da estagnação permanente, que é possível obter força suficiente para ganhar a briga moral e política. Se uma ponta da bifurcação aponta para a substituição do capitalismo por outro sistema que será tão ruim ou até mesmo pior, estando mantidas as características essenciais de hierarquia, exploração e polarização, a outra ponta "pressupõe" um novo sistema que é relativamente igualitário e democrático.
Nos próximos anos poderá haver alguma recuperação que indique que o sistema está funcionando novamente. Até mesmo o nível de empregabilidade do sistema como um todo, a medida essencial do estado do sistema, pode elevar-se. Mas tal aumento não pode ser duradouro por que a situação global é extremamente caótica. E o caos paralisa a prontidão tanto dos poderosos empreendedores quanto das pessoas simples ao gastarem seu dinheiro restante de forma a ter perdas relativas ao risco e até mesmo comprometendo a sua própria sobrevivência.
Estamos em uma viagem selvagem e muito desprazerosa. Se pretendemos nos comportar de forma prudente, a clareza de análise é o primeiro requerimento, seguido de escolha moral e julgamento político. O fator mais importante é que já passamos bastante do ponto em que o capitalismo como um sistema histórico pode sobreviver.