América do Sul: O fim de um ciclo ?

, par  Autres Brésils, Glauber Sezerino, Ritimo

Findadas as ditaduras e regimes autoritários que marcaram profundamente os anos entre 1960 e 1980, muitos países da América do Sul experimentaram um processo de democratização baseado em políticas muitas vezes descritas como de direita. Marcado por um forte desengajamento do Estado, os experimentos realizados por Carlos Menem na Argentina, Alberto Fujimori no Peru, ou sucessivamente por Fernando Collor de Mello e Fernando Henrique Cardoso no Brasil, foram caracterizadas por sua influência neoliberal.

Esse modelo econômico-político perdeu força no final da década de 1990, principalmente por causa de suas limitações estruturais, mas também pelo aprofundamento e ampliação da crítica antineoliberal. O subcontinente vê a chegada ao poder de novas elites políticas, oriundas principalmente dos movimentos sociais nascidos no período anterior. Muitas vezes marcado por uma orientação neo-desenvolvimentista, esses agentes políticos vão dar ao Estado um papel central na organização econômica, distinguindo-se dos governos anteriores a partir da aplicação de políticas sociais de "transferências condicionais de renda [1] "

Em tal contexto, falar de um "ciclo de esquerda" para países como Brasil, Venezuela, Bolívia, Argentina ou Chile, Paraguai e Equador, tornou-se um lugar comum para caracterizar a vida política da região. Estes novos governos tomaram caminhos alternativos para o desenvolvimento econômico, social e ambiental, sendo este o resultado de um longo processo de luta, criando novas formas de organização, ou mudanças estruturais no campo politico.

No entanto, a partir de 2010, em um contexto de retração da economia global, esses projetos parecem ameaçados por seus limites internos. As fragilidades do processo econômico tal como foi construído foram aprofundadas por uma crise econômica e financeira que se intensificou no subcontinente a partir de 2012. Nesse contexto, definido pela instabilidade política, econômica e social, tal "ciclo da esquerda" parece estar chegando ao fim - ou pelo menos face a um bloqueio - com o avanço das alas direitas dentro desses governos de esquerda.

Neste dossiê, tentaremos analisar a dinâmica específica desse processo em andamento no subcontinente. Para tanto, nos basearemos na análise dos diferentes quadros nacionais, sem negligenciar o caráter transnacional de tal processo político. Além das diferentes realidades nacionais, os artigos deste dossiê [Os artigos em questão foram escritos no primeiro semestre de 2017. Desde então, a situação do sub-continente evoluiu muito. Convidamos os leitores a se referirem à conclusão do dossiê para obter mais informações sobre essa evolução.]] tratarão dos mecanismos econômicos, sociais e políticos em ação durante esse período, iniciado no final da década de 1990 até a primeira metade da década de 2010.

Sumario:

Ver online : Autres Brésis

[1Trata-se de políticas públicas de combate à pobreza. Esses programas fornecem pagamentos em dinheiro para famílias elegíveis em troca de compromissos assumidos por eles. O exemplo mais divulgado é o programa Bolsa Família no Brasil.

Navigation